sábado, 11 de julho de 2009

ALEGRIA, RESULTADO DE COMUNHÃO


A cada sinal vermelho, era como se fosse um parto. Primeiro, porque significava um minuto de espera. E quando se está atrasado, todos os minutos contam. Segundo, porque eu e minha esposa compráramos o carro havia poucas semanas. Desde as aulas na autoescola, eu não sabia mais o que significava estar atrás de um volante. Por isso, a cada sinal vermelho, eu sabia que tinha que parar e ter de esperar o sinal verde; mas, justamente aí, ao dar a partida, o carro "morria". Em todos os semáforos. Sem exceção.

Seria cômico. Se a senhora no banco de trás não estivesse prestes a entrar em pane. Eu e minha esposa tentávamos acalmá-la. Seus dentes não conseguiam deixar de lado as unhas. Olhava para o pulso esquerdo, acompanhando o movimento do ponteiro. E a rodoviária parecia estar além dos Andes.

Eu sentia um misto de desespero e diversão. Seria cômico, se não fosse pela senhora no banco de trás. A aventura chegou ao fim. Naquela noite, minha mãe perdeu o ônibus. Porém, conseguiu um outro que a levaria a São Paulo. E eu voltei para casa. Sem a pressão do tempo. Ainda "morrendo" a cada sinal verde.

Estranho como rimos nas horas mais inapropriadas. Rimos de alguém que escorrega e cai. De um ciclista que perde o equilíbrio durante uma curva. De quem tromba com um poste a sua frente. Ou quando tudo dá errado e nos atrasamos em levar a mãe à rodoviária. Rimos do trágico, do infame, do grotesco, do injusto.

Pergunte a um humorista o que faz o seu programa dar ibope. Os quadros têm que falar sobre maridos enganados. Satirizar homossexuais. Conter expressões com duplo sentido. Expor transeuntes a humilhações. Ridicularizar pessoas públicas. Os televisores são ligados porque as pessoas querem rir dessas situações. Rir nas horas inapropriadas. Rir das coisas inapropriadas.

Talvez mais do que rir, as pessoas procuram diversão. As boates trabalham a todo vapor. As danceterias e bares noturnos lucram oferecendo descontração a granel. As repúblicas seguem a receita de amenizar os períodos árduos de estudo com festas que atravessam a madrugada. Candidatos atraem o eleitorado organizando showmícios. Qualquer festinha de aniversário de uma criança de cinco anos precisa de um DJ presente.

Você vê a fila de carros em frente a clubes noturnos? Pode apostar que aquela gente vai passar horas muito movimentadas. Os hits da noite impedem que alguém fique escorado em alguma parede. Não, ninguém fique parado! É hora de dançar e curtir. Pular e gritar. A noite não é uma criança?

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