domingo, 23 de novembro de 2008

PARA VOCÊ SE LEMBRAR NA HORA DA CRISE - parte 1


Simone, uma moça comprometida com a igreja, namorava Carlos, um rapaz cristão, há seis anos. [1] Um casal simpático, batalhador. Casaram-se planejando a felicidade. Passados 8 meses de união, detectou-se um câncer em Simone. Todas as igrejas adventistas da cidade envolveram-se numa única corrente de oração. Pouco tempo depois, Simone morreu.
Alguns anos depois, reencontrei-me com Carlos, durante uma semana de oração. O rapaz havia se casado novamente, na tentativa de refazer sua vida. O antigo ar risonho, que fora a sua marca, estava quase extinto. “Às vezes, quando estou sozinho em casa”, ele me confessou, “sinto uma angústia, uma vontade de sair correndo sem rumo”.
As tragédias nacionais e pessoais têm cada vez nos levado a questionar a Deus com intensidade redobrada. Mal se iniciou o século XXI e o maior atentado terrorista da história ocidental ocorreu no fatídico 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque. Será que nas horas de crise, seja em qualquer nível, não podemos recorrer seguramente a Deus? Seria a aparente ausência de Deus uma afirmação de Seu desinteresse pela Humanidade ou – pior ainda – uma comprovação empírica de que não existe um Ser superior responsável pelo nosso bem-estar?
Na época em que o povo de Israel fora parcialmente levado para o exílio em Babilônia (cerca de 586 a.C.), Jeremias, o profeta, escreveu o livro de Lamentações, motivado por seus próprios questionamentos inspirados.
Até mesmo a forma em que o livro foi composto diz algo sobre o objetivo maior do profeta hebreu. O livro de Lamentações se constitui de poemas de caráter oriental; enquanto a poesia ocidental geralmente apresenta preocupações retóricas ou, no caso da poesia moderna, demonstra um alto grau de experimentalismo, o objetivo da poesia hebraica é produzir um equilíbrio de pensamento. Assim, longe do que possa parecer, Jeremias não escreve apenas para chorar pelo que aconteceu ou lamentar a sorte de seu povo. As linhas do autor de Lamentações estão carregadas de profundas reflexões morais e teológicas.
O Senhor é caracterizado na composição de Jeremias como uma divindade moral. Como resultado da desobediência humana, Deus permite o advento de calamidades; Ele intenta, desta maneira, que o homem reconheça Seu erro e volte-se a Ele. Evidentemente, este raciocínio não pode ser aplicado para explicar a razão de todo sofrimento humano. Em Jó, outro livro bíblico com aspectos semelhantes aos de Lamentações, a calamidade (neste caso, pessoal) não é uma punição, mas uma prova de fé, resultante da atuação de entidades cósmicas antagônicas – Deus e Satanás – que lutam para influenciar o destino do homem.
Mas qual é, efetivamente, a atitude apropriada diante da calamidade, seja ela motivada pela punição instrutiva ou prova de confiança? Em um de seus momentos áureos, o livro de Lamentações nos diz em que pensar quando atravessamos uma dolorosa crise:

“Todavia, lembro-me também do que pode me dar esperança:
Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis.” Lm. 3:21 e 22, NVI[2]

Estes versículos encerram o principal ensino da seção. Há razões pelas quais alguém pode se fiar nas misericórdias divinas em tempos críticos? Jeremias provê algumas razões:

(I) As misericórdias de Deus são eternas

As misericórdias divinas atuam como um ciclo fechado (v. 22-23a), uma espécie de fonte auto renovável de energia. As misericórdias do Senhor são tão grandes que a eternidade não é suficiente para contê-las, mas ainda assim cabem dentro de cada dia que vivemos.

O texto ensina-nos que a compaixão divina provém de uma fidelidade imensa (v. 23b). Normalmente, o termo “fidelidade” na Bíblia é aplicado ao próprio Deus, e relacionado aos Seus atributos, às obras divinas e às Suas palavras.


[1] Os nomes dos envolvidos foram trocados.[2] Todas as referências bíblicas foram citadas a partir da Nova Versão Internacional (NVI).


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