quarta-feira, 16 de maio de 2007

POR QUE SAÍMOS DO EGITO ?




Aproximadamente 2 milhões de pessoas participavam da maratona. Nenhum atleta profissional. Nem mesmo alguém que tivesse um personal treiner. E toda aquela massa vinda de um lugar maldito. Recém saídos de uma rotina de servidão e maus-tratos. Mas não pareciam satisfeitos com a liberdade que recebiam de presente. No centro da rebeldia israelita estava o murmúrio de gargantas secas: “por que saímos do Egito” (Nm 11:20)?
Pode parecer que as vozes ingratas dos israelitas sejam algo despido de sentido. É difícil pensar em como um prisioneiro de guerra poderia fazer exigências a bordo do avião de fuzileiros que o resgatou. Uma criança, ao final do turno, não chora nos braços da mãe, pedindo para voltar para a escola. Mas em Números 11:34 está relacionada a maior dificuldade e gerador de problemas em Israel: havia uma mescla de gente tomada pela cobiça (ou “gula”, conforme dizem outras traduções).
Afinal, Deus realizara o livramento de Sua nação. Embora alguns demonstrassem sua ingrata satisfação, os propósitos divinos tiveram suas engrenagens acionadas. O Senhor tinha metas pré-estabelecidas ao livrar Seus filhos. Uma delas, que salta à superfície da narrativa bíblica, é que o Êxodo aconteceria através de atos executados pelas mãos de Deus (Êx 7:4), e, ao mesmo tempo, se constituiria assim num juízo contra os deuses egípcios (ou uma calculada superação por parte de Iahweh das pretensões daquelas divindades falsas), conforme Jetro, o sogro de Moisés, constatou mais tarde (Êx 18:11).
Com isso, ficava evidenciado o poder e supremacia do Deus Verdadeiro. Ao mesmo tempo em que O cativeiro do Egito foi uma espécie de forja para o povo de Deus (Dt 4:20), ensinando-lhes, sobretudo, o desenvolvimento de uma aversão à idolatria[1], Deus salvou Seu povo para que o servissem, andando em Suas leis, como representantes dEle perante os povos. [2]

Suficiência estendida aos insuficientes

A liberdade não foi resultado de uma revolução armada ou greve pacífica à la Gandhi – a Misericórdia, poder e suficiência de Deus cumpriu com um plano infalível, alheio à participação ou iniciativa humanista. Deus convocou Moisés como Seu instrumento – e só. A gratuidade do passaporte para a vida livre deveria motivar ao reconhecimento e consequente serviço ao Deus do Êxodo.
O mesmo se aplica a nós. Ou você pensa que Deus escolheu uma meia dúzia de Clark Kents para compor um quadro de “funcionários do Reino”? Deus escolheu você não por você, que nem sequer merecia uma pitada de Sua saliva divina. Deus o ama e o tirou da escravidão do pecado e das trevas para ser Dele, exclusivamente.
Mas cuidado! Não aja como o povo, que deixou de reconhecer a grandiosidade do livramento divino e se tornou ingrato. “Alguns estão sempre a ver antecipadamente o mal, ou a aumentar as dificuldades que realmente existem, de modo que seus olhos ficam cegos às bênçãos que lhes reclama gratidão.” [3]

O que valida o compromisso

Nesse compromisso firmado com o povo, Deus esperava que houvessem mudanças. Uma vez que seguir nosso próprio coração e nossos olhos leva à infidelidade (Nm 15:39), o coração deveria ser circuncidado (Dt 10:16), para se guardar a lei de Deus, a própria essência de Sua aliança com o povo salvo (Dt 4: 13, 23).
Sem uma ligação afetiva com Deus, esse comprometimento beira o absurdo! Supondo que você fosse um israelita da época pós-êxodo e cumprisse exteriormente as prescrições legais, isso não bastaria ainda; a lei envolvia também o pensamento (Lv 19:17-18).
Mas as leis divinas contém cláusulas não clausuras! Por causa das leis dadas no Sinai, a liberdade seria incomensuravelmente maior do que quando estavam sob o regime de Faraó.
O êxodo recorda que o povo deveria viver sem medo. O Êxodo era uma constante lembrança de que os povos inimigos seriam derrotados, como o Egito o fora (Dt 7:17-19). Ou como Paulo disse: "Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas?” Romanos 8: 31up e 32"
Se fomos libertos do pecado em Cristo, que pagou um tão alto preço pela nossa liberdade, não temos, apenas nesse fato, a certeza de que as nossas necessidades diárias, nossas urgências e desafios serão supridos, sem nenhum débito adicional?
É claro que termos uma confiança tão garantida em Deus por aquilo que Ele nos fez não pode nos levar à arrogância! O Êxodo provia uma das razões para se ter compaixão: a própria situação de miséria que Israel enfrentou quando era escravo no Egito (Dt 24:18 , 22). Como Deus nos amou e salvou, devemos ser solidários com aqueles que estão nas trevas da ignorância e erro – principalmente quando nos ferem.
O gesto divino de alforriar Seus filhos e os compromissos do novo status quo não afetam apenas o grupo, mas também o indivíduo. Afinal, fidelidade corporativa não exclui o dever pessoal (Dt 29:18), ou, em outras palavras:
“O terrível poder de Deus que aplica suas armas, a lepra, a serpente e a peste (cf. Êx 4:1-7; Nm 21:6s, 11:33s) contra seus próprio povo, não deixa dúvida de que a aliança feita por Deus não é um refúgio seguro sob o qual alguém possa, astutamente, se servir do poder divino para seus próprios interesses. A aliança reivindica a todo homem, chamando-o a uma entrega sem reservas.” [4] Viva o compromisso de alguém livre em Cristo, alegre e vitoriosamente!

Referências
[1] Ellen White, Patriarcas e profetas p. 200.
[2] Idem, p.201.
[3] Idem, p. 73.
[4] Walther Eichrodt, Teologia do Antigo Testamento, p. 32.


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